sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Ratimbum

Sujo, entregue a um tesão barato e a fútil busca de algo que vibre. Os olhos vidrados se fixam em qualquer ponto profundamente enraizado dentro de mim. Encaro o vazio de frente, a escuridão aqui é sedutora e feroz. Deixo-me envolver por ela e volto dessa monstruosa cruzada em pedaços. Sujo, o sopro que assoma nunca é o bastante.

sábado, 23 de julho de 2011

Sou fraco, vil, baixo, reles, medíocre, patético, desesperado, irresponsável, desequilibrado, imaturo, histérico, feio e absurdamente fútil.

Não é um poema ou um texto, um conto, uma crônica, nada disso... Mas é interessante lembrar-me de quem eu realmente sou de vez em quando.

sábado, 25 de junho de 2011

Me perco na infinita complexidade de interações tão simples.
Bebo até que as coisas façam sentido,
mais alguns goles até que as pessoas pareçam bonitas e interessantes.
Viver é fácil.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Desembaraço

até quando preguiça?
até quando tédio,cansaço prematuro, desânimo universal e preguiça?
até quando pobre, burro, ridículo e pequeno?
até quando nem morto nem vivo, nem cheio nem vazio?
até quando essas dores, esses nós, esses demônios, luzes, torções, rompimentos, inaptidões, torcicolos, distensões e trevas?
até quando a falta de razão, o inexplicável, a raiva, as mentiras, angústias, medos, vergonhas, responsabilidades impostas, maturidade suposta, realidade escondida, mente dopada, raciocínio anuviado?

Quanto tempo mais eu vou conseguir fechar os olhos, fingir não vislumbrar, usar meus óculos escuros feitos de um vermelho profundo?
Será que ainda falta muito para que eu caia, atinja o fundo, morra para tudo e enlouqueça de uma vez?
Queria saber das horas que ainda tenho de forças, quantas reservas, quanta força de abafamento ainda me sobra para conter os meus gritos, meus choros, meus ódios, meus ridículos amores, minhas feridas que recuso a tratar, minhas paixões pervertidas.
Quantas cinzas mais têm que cair?
Quantos passos mais tenho que dar?
Quantos riscos mais tenho que correr?
Quantas loucuras mais tenho que aplacar?

Que dias são esses que vivo são? Não consigo pensar direito, me fechei de todos os lados e não sei por onde sair. Nada sinto, nada vejo, nada ouço, nada penso. Estou morto em mim e sou meu próprio assassino. Calei-me e fechei-me nas rotinas, nos sistemas, no ser normal. Desejei tanto me tornar o que sou, mas agora vejo que não poderia calar totalmente esse diabo aqui dentro.

Romper.
O sonho é sempre: romper.

Saudades

Isabela,
Naiara,
Marina,
Fabiana,
Taciane,
Marina,
Letícia,
Ana Flávia,
Brunna,
Luiza,
Isabella,
Raquel,
Carolina,
Bianca,
Flávia,
Ana Luiza...

Saibam que dou pelas suas ausências.

domingo, 24 de abril de 2011

Eu que não sou.

   Não sei bem o motivo pelo qual vou escrever isso, além de uma vontade que eu tenho agora. Constantemente sonho com outras vidas. Nada paranormal, nada espírita. Só gostaria de ser outras pessoas. A impossibilidade de alcançar a plenitude na vida,  a eterna insatisfação à qual estamos todos fadados por sermos quem somos, raça humana; isso é o que me impulsiona.
   Vejo sempre alguma coisa que me atrai, não coisas que eu queira ter e consumir, coisas materiais, mas outras coisas. Sempre me sinto assim quando observo alguém exercendo sua força de vontade, ou quando vejo filmes, seriados, ouço músicas, leio, leio sobre alguém... Ser somente o que sou nunca foi o bastante. Me sinto, de certa forma, seguro de mim, gosto de quem sou, mas isso apenas pela certeza de que me conheço bem e sei que todos os dias busco ser outro alguém. Já sei quão profundamente isso faz parte de mim. Não tenho uma personalidade forte, não sou autêntico; talvez traços de autenticidade passem por mim e brilhem diante das pessoas algumas vezes, mas apenas por eu ter consciência da minha patologia. 
   Toda minha vida sempre assumi um papel inteiramente importante e totalmente dispensável... Uma muleta, um túnel, uma ponte. Esses sempre foram os papéis que desempenhei. Há ainda aqueles que param sobre a ponte vez ou outra, admiram tudo aquilo que, com um apoio seguro sob seus pés, há para se admirar. Desconfio já há algum tempo que essa sensação de estar sempre de passagem, de tudo fugir de mim, esse sentimento frio de efemeridade, é conseqüência de quem sou. Ou melhor, de quem não sou.
   Minha busca não é inteiramente em vão; não fico todos os dias tentando encontrar algo no que me segurar, algo melhor para brincar de ser. Busco um pouco, levianamente, encontro o que me agrade, vivo aquilo mais intensamente do que a maioria das pessoas vive toda a sua vida... Depois me canso e mudo. Esgoto a vontade de ser aquilo e busco a plenitude momentânea em outrem. Um novo personagem, novos traços para essas máscaras que venho construindo. Acho que como as pessoas fazem com as coisas, faço eu com os seres. São os seres o meu vício maldito.
   Nunca consigo me culpar. Admito todos os meus defeitos, todos os dias, mas nenhum deles é de minha responsabilidade. A sensação de ter sido feito assim se sobrepõe a tudo isso. Defesa inconsciente? Proteção do meu sub-consciente para manter minha persona intacta da devastação que seria assumir qualquer coisa? Parece que sim, mas me falta estudo para confirmar essa suposição. Talvez alimentar um de meus personagens, o futuro psicólogo renomado, me ajude a decifrar essa dúvida. 
   
   Só agora, depois de escrever essas linhas, percebo que minha incapacidade de encontrar em mim mesmo qualquer qualidade, advém de todo o supracitado. Nada que faço bem... Nada que faço é meu, tudo pertence à meus personagens; talvez por isso odeie emprestar o que tenho, dar-me para alguém, confiar profundamente. Não sou desconfiado, apenas jamais tiro da cabeça duas frases de um dos seriados que assisto: "Jamais subestime a capacidade das pessoas de te decepcionar" e "Cuidado com o que você pensa que conhece sobre alguém. Você provavelmente está enganado".
   Ainda me escondo na escuridão, apenas ponho minhas peles na luz, mais uma máscara, mais um personagem, este que agora vivo em plenitude, este que, talvez, amanhã esteja morto. Talvez não morra por completo, talvez eu abandone algumas partes dele e o remodele em outro vaso. Caminho sob o sol, mas a luz jamais poderia me atingir diretamente. Tenho que sentir o calor das coisas através de tipos, caras, bocas, peles, beijos de outro alguém. Estou preso dentro de tanta gente, tanta gente que eu mesmo inventei... Meu corpo é uma instância, uma pousada, um albergue de todos os meus outros "eus"... Um albergue no qual não me sobrou nenhuma cama. Vejo todos esses pedaços de gente passando, a alguns lhe falta um braço, uma perna... Já outros não estão completamente formados, e há aqueles que nem chegaram a ser, formas etéreas que ainda assombram os quartos dessa casa. 
   Duas amigas e uma ex-namorada já me disseram que têm medo de mim. Não sabem quando eu vou estar bem, quando estarei de mau humor, quando gritarei ou quando cairei em gargalhadas. Minha ex-namorada tinha até mesmo medo de que eu lhe agredisse fisicamente. Quando uma vez lhe perguntei: "-Você acha que eu seria capaz de te bater?", ela pausou e então respondeu, com os olhos de quem admite uma verdade não só para outro, mas para si mesmo: "-Não sei.". E por esse motivo eu canso as pessoas. Não sabem lidar com alguém que não é linear, eu sou impróprio para consumo diário. Mas não é porque eu seja louco ou - e escrevo isso um sorriso no rosto - um gênio incompreendido... é porque eu não sou. Os outros é que são através de mim. Talvez também se explique aqui a razão de eu gostar tanto do cristianismo. A idéia de não ser você, mas apenas um veículo do divino espírito santo, da palavra de Deus, de Deus ele próprio.
   Vou dormir agora. Depois de escrever isso sinto-me ainda mais certo de mim, certo de que não sou, certo de que, quiçá, nunca fui - talvez em algum momento puro de minha infância, antes mesmo do que eu posso me lembrar, eu tenha sido, mas desde que me lembro, muito jovem, já tinha ânsias de ser outrem. E com essa clareza de pensamento, deito-me em instantes, provavelmente pensando no papel que vou desempenhar no espetáculo da rotina do dia que está porvir.

Por: Raphael Santos Rocha, 24 de abril de 2011, concluído às 22:29.

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