terça-feira, 1 de junho de 2010

A vagabunda

Não gosto que me toquem. De alguns, por mais infantil que possa parecer, tenho profundo desgosto e ojeriza. Não posso me esconder e desviar-me irá trazer perguntas. Também não gosto que me questionem. Assim, forço logo o contato mínimo com o menor mal de afetação: aperto-lhes as mãos. Se não isso, aproveito-me de que se encontram no plural e apenas comunico meus cumprimentos de longe, acompanhados do meu melhor sorriso, para que se sintam mais receptivos e respeitados e não pensem sobre isso. Aprendi a apreciar a distância e a adorar o meu espaço pessoal. Não gosto que o invadam. Acho toda essa afeição instantânea, esse contato forçado... uma merda. "O que tem de mal num beijo no rosto? Ou num abraço?". Tudo. Não gosto de beijos, abraços ou amigos que eu não mereça ter; tampouco terão de mim algo ao qual não tenham conquistado seus devidos direitos. Não dou de graça, não quero imediatamente. Para alguns seria melhor que, ao me ver, me esquecessem. Não me dou com nenhum de vocês, com a sua libertinagem branca. Não me faço puritano, apenas creio que até para ser um libertino há de se respeitar os que, como eu, necessitam estar muito bem acompanhados de si mesmos. Desdenho o olhar de compaixão quando digo que "não, estou sozinho mesmo". Prefiro os que me lançam o de "fez por merecer", se bem que conheço uma meia dúzia que não traz nada nos olhos ao me ver bem só. As poucas almas solitárias que escolheram a reclusão como forma de abrigo, cura ou bem-estar (sempre são, a mim, de se admirar).

Não gosto dos que querem que eu divida meus dias. Afinal, você vai estar aqui para ouvi-los todos? Não gosto que tentem me forçar a confiar. Se para vocês esse laço é assim tão banal, por favor, ... fiquem com os seus, pois que não sou deles.

Não gosto que perguntem como vou. Não gosto que se metam no que lhes não interessa e, de uma vez, para que nunca mais haja dúvidas, dou-lhes: Vou com as pernas, como sempre fui.

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