sexta-feira, 9 de julho de 2010

Metade de mim é vazio, a outra é solidão.

Me levantar agora é realmente um desafio. A cama geme, as mãos doem, os olhos ardem, a respiração falha e o sol sempre ali. Acho que negligencio a idéia de fechar as janelas quando me deito só para poder ser acordado pelo sol de novo. Suar de novo, reclamar de novo, me levantar de novo. Um ar parado que não deixa esse lugar, eu respiro a mesma coisa já a alguns meses. Não tenho mais gosto por filmes nem por música. A melancolia que tudo me passa é gritante, a banalidade também.

Já sinto que não me aguento nisso tudo que me prende. As paredes do quarto estão mais próximas, meus livros ficaram menores, a casa agora me sufoca e enlouquece. A minha proteção, mais uma vez me engana. Minhas escolhas estão erradas, novamente. O choro não me vem, nem o sorriso verdadeiro. Insensível, alheio para as coisas do mundo, alimentando uma antiga sociofobia agora redescoberta. Sou o produto dos meus erros, subtração dos meus acertos (tão poucos). Frio que sou me gelo e num instante estou a gritar por qualquer coisa, meu ego infla e sou egoísta, no que posso me agarro e tudo me ofende. Pessoal, egocêntrico, preguiçoso e irresponsável. Traços de psicopatia e depressão. Nem mesmo diagnosticado eu fui, procurei resposta e tudo que me deram foram traços. Nem nos meus defeitos sou completo. Não sou bom nem ruim o bastante. Eu não sou ninguém. Não me deixo enganar pela imagem gerada por esse inconsciente. Sombra que move o meu pensar e meu agir. Eu não existo. Tudo que sou é uma ilusão gerada por uma mente consciente e inexplicável, formada por sinapses e reações químicas.

Quando me resumo em fórmulas, tudo perde o sentido. O texto mudaria aqui, mas como todo o resto, não consigo terminar. Me falta palavra e talento. Com o silêncio eu sei lidar, mas quando é que vou me acostumar ao desespero?

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