sexta-feira, 30 de abril de 2010

Porque eu precisei de alguém e não encontrei ninguém. Hoje o amor não vive aqui, o conforto fez as malas e a garoa tomou conta de todo o meu quarto. Por volta das três e meia da tarde eu saí e esqueci a janela aberta, passei uma tarde vazia com grandes sonhos que duraram trinta minutos. Aos poucos eu sinto que estou deixando ir, me deixando esvaziar e esperando que alguma coisa me proteja de tudo isso.

Eu voltei e encontrei o chão molhado, eu devia ter notado: o dia nublado, mas não dei atenção. Meu olhar estava perdido e vazio como sempre. Meus pulsos doíam, meu joelho também. Me assentei e encarando o quarto no escuro eu notei. Odeio todos vocês, porque eu precisei de alguém e não encontrei ninguém.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quebra-cabeça

Acho que foi só alguns dias atrás que percebi o quanto eu estou sozinho. É um tema recorrente e tedioso que sempre me pega, mas eu não posso evitar. Eu cedi partes da minha vida que não voltarão a crescer depois de algum tempo, não dá para suplantar esse escuro que invadiu as minhas horas. Eu me sentia grande e forte, capaz de fazer coisas para te ajudar e te levar pela mão... mais uma vez eu estava enganado. Sempre fui um menino, pequeno demais para lidar com os próprios problemas, a cabeça sempre demasiado vazia para saber o que fazer com os seus. Eu nem mesmo sei quem você é.

Mesclo todos os dias uma dúzia de rostos diferentes numa única vontade de lembrar de alguém. Sempre que penso no futuro me vejo carregando todas vocês comigo, lentamente. Me agarro a esse cadáver de memória pois ele é tudo que eu tenho, meu último fôlego de sensibilidade. Estou estagnado em algum ponto da vida e tudo em volta está turvo, não vejo claramente as possibilidade (será que elas, de fato, existem?), não sou capaz de me libertar de tudo isso que me impregna o corpo. Rodo de um lado para o outro, vou tropeçando e cambaleando, tentando manter os meus passos de dança afiados para que não me vejam fraquejar. Caído, sem forças para levantar, sem vontades. Não há nenhum caminho que eu deva tomar para encontrar um pouco de alívio nesse tormento pois, com efeito, já me cansei de tentar seguir em frente. Vou desfrutar minha resignação e me sentar um pouco... Hoje, eu quero a vida a passar.

terça-feira, 27 de abril de 2010


"When your day is long  and the night, the night is yours alone
When you're sure you've had enough of this life, hang on
Don't let yourself go,
'Cause everybody cries and everybody hurts, sometimes
Sometimes everything is wrong
Now it's time to sing along
When your day is night alone (Hold on, hold on)
If you feel like letting go (Hold on)
If you think you've had too much of this life to hang on
If you're on your own in this life
The days and nights are long
When you think you've had too much of this life to hang on


Well, everybody hurts."

sábado, 24 de abril de 2010

Forever young

Encontrei alguns amigos hoje. Fiquei surpreso em ser tão bem recebido, há muito não os via e já tinha perdido a vontade... qualquer vontade de sair de casa. Pisar na calçada não tem o mesmo gosto que eu sentia antes. Seja o que for que aconteceu, quando fui embora eu finalmente percebi: tudo é igual. Cada final vai ser salpicado de desgosto, cada despedida vai ser engolida a seco, todos os dias vão ser tão solitários quanto esse. Por melhores que sejam os amigos, não há como ver aquilo que se esconde tão bem.

Acho melhor me acostumar a envelhecer assim, o sol já se pôs aqui dentro. Mas ainda assim é difícil ver os dias passarem e as rugas crescerem sem nenhuma razão.


"life is a short trip
The music's for the sad men

Hoping for the best but expecting the worst
It's so hard to get old without a cause"

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Decepção

você não é nada do que eu queria. em alguns segundos mais eu atingiria a superfície, eu consegui ver os raios de luz que poderiam me salvar, mas nada disso é verdade. a forma distorcida que envolve a sua beleza me impede de sorrir.

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fuja de mim, por favor. não fique por perto, não me olhe, não me fale sobre seu amor, sua admiração, não me fale que você é feliz, eu não quero saber. eu quero ficar sozinho um pouco, perder o foco do meu olhar no nada, fumar um pouco, pensar em bobagens, esvaziar meus pulmões, relaxar cada músculo do meu corpo, ouvir um vento frio e sorrir por gostar tanto dos meus agasalhos. apertar os olhos quando vier uma brisa, porque meus óculos não me escondem, quero dizer adeus, nunca mais voltar, deitar aqui. sentir de novo um vazio inexplicável e me agarrar a ele com tudo que eu tenho. porque eu não tenho nada e exijo a perfeição.
Precisei de uma amiga e você não estava aqui, acho que como todo o resto ficou tudo tão igual. Me dei, me doei e fiz o bem, pratiquei boas ações e agora vou pro céu. Nada como lhe fazer tão bem e ficar sozinho! Tudo o que eu sempre sonhei. Trocar minha compreensão pela sua tristeza, lhe ajudar a destilar tudo em bem-estar e carregar o seu fardo.

E meu novo salvador me dá nojo. Não quero sergurar-lhe a mão ou deixar que me toque com carinho. Não quero provar a boa essência dentro da embalagem deformada. Quero não ter esperanças, quero viver a noite profundamente e ouvir sempre a chuva passar. Nisso eu sempre fui bom: me esconder.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Garganta

Apertada com um nó... um grito abafado e sem causa, sem destinatário algum, apenas irritabilidade, frustração e apatia: sou eu.

Poço

Não me confundo mais entre um sim e um não, agora as coisas são bem mais simples. Não há o que esperar quando mergulhamos tão fundo; ver um cais de porto quando precisamos chegar é simples imaginação... se não me doso a cada duas horas com um pouco das minhas velhas mentiras não sigo. Essas frases que pesam sobre meu corpo, são tantas marcas que agora fazem já parte de mim, mas não estou mais confuso, apenas não consigo reconciliar isso no que me tornei com a criança doente escondendo-se atrás de mim.

Cada passo soa pesado no chão molhado. Não consigo enxergar direito atrás das lentes embaçadas, molhadas, as hastes que margeiam minhas vistas não me protegem mais. Meus dentes batem levemente uns nos outros, mas não me importo, já é noite e agora eu posso me desesperar. Mas eu ainda espero, vê se não demora pra chegar.

porque eu,

só por ter tido carinho, pensei que amar era fácil.

(Clarice Lispector)

minha força está na solidão

Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Insensível II

Pela manhã encontrei ainda seu corpo em minha cama, debaixo dos lençóis estava quente e macia, de costas para mim. O seu cabelo pendia-lhe da cabeça suavemente até encontrar os travesseiros e ali escorrer um pouco mais. O seu cheiro impregnava os lençóis, a cama, os travesseiros, meu corpo. Minha mente embriagada que lhe vê deitada e crê vividamente que tudo lhe é estranho e sonho não me surpreende. Alheio a uma realidade que nunca poderei tocar, mas afago seu corpo quente. Envolvo-lhe em meus braços, meu peito em suas costas, perto. O calor de nossos espíritos, ligados naquela manhã debaixo dos lençóis, nos escondia do frio que entrava pela janela escancarada. Era assim que gostávamos de deixar, mania. Todas as noites ela vinha me visitar e nunca passamos mais do que seis horas e meia juntos. Sem abrir os olhos, se aconchega em minha redoma de carinho e ainda tão macia, tão doce, me deseja um bom dia. Retribuo-lhe com um beijo na nuca, o cheiro me entra pelos poros, capitoso. Era ali minha zona de conforto, eu poderia ficar deitado, envolvendo-a em meus braços até que eles caíssem podres. Minha vida era aquele instante e nada mais. Os meus sonhos se resumiam a um nome, eu era o que sentia ali, eu era alívio, aconchego e consolação.

Nos levantamos então, depois de quase uma hora, sem nos vestir, conversamos enquanto aproveitávamos o nosso café da manhã: duas xícaras de espresso, dois cigarros para cada um. Voltamos para a cama ainda mais um pouco, trocamos algumas carícias e disse a ela juras de amor. Eu vou estar do seu lado. Sempre. Preparei tudo isso para você, tudo o que me pedir eu vou lhe atender, estou aqui por você e nada mais. Ela sorriu e me abraçou, disse que tudo isso era lindo, mas que tinha que ir agora.

Aperto no peito, nó na garganta, peso no estômago, ansiedade, todas as minhas manias vieram a tona. Tive que lavar as mãos imediatamente depois de ela sair. Vesti minhas roupas numa fúria pudorosa de mil e três bons cristãos, abri todas as janelas e espantei o cheiro do cigarro, arrumei tudo, cada centímetro e canto daquele apartamento. Tudo estava métrico e impecável. Lavei minhas mãos mais uma vez ainda. Desinfetei as mesas, cadeiras e todos os talheres. Um a um, sem pressa. Duas horas e meia se passaram e parado no meio da sala pude ver o quarto e a cama, agora fria, em que nos deitávamos tempos atrás. Tudo estava ali ainda, em mim, nada tinha passado: o aperto no peito, o nó na garganta, a malévola ansiedade que tomava conta dos meus dedos os fazendo se debater contra minhas pernas. O cheiro. Aquela força sublime que ela emanava por toda parte ainda tomava conta do ambiente e do meu espírito, aquele perfume capitoso. Nada que eu fizesse poderia tirar de mim aquelas marcas. Estava embriagado e meu corpo eternamente pronunciado. Perdia agora mais uma parte da minha alegria. Tinha-se ido com ela, como com todas as outras. Eu sou o posto de passagem, o porto mercantil onde jamais ninguém se estaciona. Abastecem-se em meus sorrisos e palavras doces de quem sente nos ossos o calor e se vão. Hei de ser assim ainda muito mais? Quero não me importar, quero esfriar minhas expectativas e calar os meus suspiros.

Que sejam de outros agora, estão melhores assim. Preparei-lhes bem, fortaleci seus espíritos e tornei-as mulheres altivas, altaneiras, briosas. Eu as faço demasiado bem, as torno independentes de mim. Que outros toquem agora os corpos que preparei ao custo de pedaços de alma, que desfrute outrem das palavras e ensinos que incuti em cada uma delas, que jamais se deixem novamente esmorecer por figuras paternas transfiguradas em complexos de electra mal resolvidos. Sejam agora, todas elas, águias, porque eu desaprendi a voar.

Insensível 1

Já não há mais promessas a cumprir nem expectativas para compensar... A liberdade nunca atormentou tanto.
Acorda cedo demais, o sol ainda não subiu. Olhando pela janela, leva a mão ao maço e ao isqueiro e acende seu cigarro, um pouco de vício para compensar a falta de algo para preencher o tempo, ocupar as mãos. Nunca notou como os minutos rolavam lentamente antes dessa manhã. O corpo quente e um vento frio vindo lá de fora, uma camiseta amarratoda, um rosto amassado, coloca suas calças jeans, um par de tênis qualquer e está pronto. A xícara de café é adoçada com mais alguns tragos e o relógio encontra seus olhos: são cinco e vinte e três. Um suspiro anuncia sua amarga desistência e algo lhe aperta com força a garganta. No espelho vê que não há brilho algum em seu olhar ou em seu rosto, só uma cor apagada, um choro preso, a sensação tão bem expressa de estar por esperar. Estar ali passando os dias apenas no aguardo de um acontecimento que se lhe enfie fundo no peito e espante toda a apátia.

Já não se lembra da última vez que sentiu alguma forma de prazer, uma vontade de ir à algum lugar, passear e ver os carros rodando, conversar despreocupadamente. Não há mais nada para ver nessa cidade que o seu medo não lhe diga que é inútil. Se levantar, erguer o queixo e notar as avenidas terminando em miragens distorcidas e luzes frias... Ele fecha os olhos esperando adormecer ou acordar; partir de vez ou se perceber não mais sonhando um canvas cinza 25%.

domingo, 18 de abril de 2010

B.M.2

"It's hard to reconcile what I've become with the wounded child hiding deep inside"

B.M.

"It's in the water, baby, it's in the pills that pick you up
It's in the water, baby, it's in the special way we fuck
It's in the water, baby, it's in your family tree
It's in the water, baby, it's between you and me
"

 "I know
The past will catch you up as you run faster
"

"I wanna be much more like you
Your effortlessly graceful scene
That drips from every pore of you
Where logic cannot intervene
I wanna take a bath with you
And wash the chaos from my skin
I wanna fall in love with you
So how do we begin?
"

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