segunda-feira, 19 de abril de 2010

Insensível 1

Já não há mais promessas a cumprir nem expectativas para compensar... A liberdade nunca atormentou tanto.
Acorda cedo demais, o sol ainda não subiu. Olhando pela janela, leva a mão ao maço e ao isqueiro e acende seu cigarro, um pouco de vício para compensar a falta de algo para preencher o tempo, ocupar as mãos. Nunca notou como os minutos rolavam lentamente antes dessa manhã. O corpo quente e um vento frio vindo lá de fora, uma camiseta amarratoda, um rosto amassado, coloca suas calças jeans, um par de tênis qualquer e está pronto. A xícara de café é adoçada com mais alguns tragos e o relógio encontra seus olhos: são cinco e vinte e três. Um suspiro anuncia sua amarga desistência e algo lhe aperta com força a garganta. No espelho vê que não há brilho algum em seu olhar ou em seu rosto, só uma cor apagada, um choro preso, a sensação tão bem expressa de estar por esperar. Estar ali passando os dias apenas no aguardo de um acontecimento que se lhe enfie fundo no peito e espante toda a apátia.

Já não se lembra da última vez que sentiu alguma forma de prazer, uma vontade de ir à algum lugar, passear e ver os carros rodando, conversar despreocupadamente. Não há mais nada para ver nessa cidade que o seu medo não lhe diga que é inútil. Se levantar, erguer o queixo e notar as avenidas terminando em miragens distorcidas e luzes frias... Ele fecha os olhos esperando adormecer ou acordar; partir de vez ou se perceber não mais sonhando um canvas cinza 25%.

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