sexta-feira, 7 de maio de 2010

Diário

Acordei cansado. Com o passar do tempo as minhas horas de sono diminuíram bastante, não sei o motivo. Estou tão exausto quanto antes, talvez mais; agora eu tenho mais minutos para reparar em mim. Imagem mais vazia e apagada do que nunca. As paredes do quarto se afastaram, a casa ficou mais profunda, as pessoas se tornaram menos reais, o ar ficou mais ameno e pesado. Tenho espaço de sobra por aqui agora, a cama vazia, a cabeça que não encontra com o que se ocupar. Até mesmo o som dos meus passos hoje é amplificado. Passo quase todos os dias com as roupas que uso para dormir, uso a mesma xícara várias vezes para não ter que lavar outra. Organizo minhas pequenas coisas, minhas revistas, meus livros; não consigo mais me concentrar em nenhum deles. Comecei a ler cinco livros e larguei todos, essas coisas perderam o encanto. Tenho passado mais tempo escutando música e vendo tv. Eu que jurava não entender como as pessoas conseguem se deitar e ouvir música, olhando para o teto e nada mais, agora faço o mesmo e sinto o peso de tudo isso.

De alguma forma fui deixado de lado por todas as coisas que conheço, exceto minha família. Não saio de casa, não vejo meus amigos (nem os tenho). Sou avulso em todos os lugares que vou. Não tenho vontade de sair de casa, a calçada começa a ficar assustadora. Por alguns momentos eu me protejo e é bom caminhar, quando eu me sinto intocável, quando ninguém me vê, quando eu sou só mais um cliente, mais um jovem incomum indo a padaria. É nessas horas que o vazio se ameniza e eu me sinto a vontade na minha inexistência. Aos poucos aprendo a lidar com ela, a inventar razões para que assim seja melhor. Eu era sozinho porque queria, agora escolho a solidão porque ela me abraça. É minha única conviva e me amedronta até o último fio de cabelo; quando dói, ela é tudo que eu tenho para me acompanhar.

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